domingo, 20 de março de 2011

Corumbiara


A foto acima mostra uma cena aparentemente popular. Olhando rapidamente podemos imaginar uma rebelião sendo controlada ou talvez um grupo de guerrilheiros capturados numa mata. Mas percebemos que não são presidiarios pois estariam pelados ou com uma roupa um pouco mais digna, se fossem guerrilheiros estariam melhor vestidos e com suas armas aparentes.

Depois de pesquisar pude ver que era mais do que imaginava, as roupas humildes e o fisico destes homens mostram algo mais intrigante.

Esta foto foi tirada no ano de 1995, na fazenda de Santa Elina para entender melhor leremos a seguir uma pequena reportagem da Rede Brasil atual, por João Peres


"Movimento quer novo julgamento do massacre de Corumbiara

O Comitê Nacional de Solidariedade ao Movimento Camponês de Corumbiara quer um novo julgamento sobre o massacre de trabalhadores sem-terra ocorrido em 1995 em Rondônia. O grupo, encabeçado por líderes religiosos, pretende pressionar o Legislativo, a presidenta Dilma Rousseff e a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, para que os eventos que resultaram na morte de pelo menos 12 sem-terra e dois policiais tenham nova apuração.

"Estamos tentando despertar o interesse de nossa sociedade em torno de uma grande injustiça", argumenta o padre Leo Dolan, presidente do Comitê de Solidariedade, em conversa com a Rede Brasil Atual. "Sem uma reforma agrária séria, os problemas do Brasil não serão resolvidos”, insiste.

O primeiro passo para trazer o caso novamente à tona foi dado nesta quarta-feira (16), com a entrega de uma carta à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados (CCJ). Também nesta quarta, ofícios serão enviados à presidenta Dilma e à ministra Maria do Rosário. Os documentos solicitam que se indiquem quais medidas foram tomadas pelo Estado brasileiro nesses últimos 16 anos em relação às mortes ocorridas em 9 de agosto de 1995.

Massacre
Naquela madrugada, um grupo de trabalhadores rurais que ocupava a Fazenta Santa Elina, em Corumbiara, foi massacrado por policiais militares e pistoleiros. Morreram 12 trabalhadores rurais morreram, entre os quais uma criança, e oito dos corpos tinham evidências bastante fortes de execuções extrajudiciais. No enfrentamento, dois policiais também faleceram. Em uma série de julgamentos ocorridos em 2000, foram condenados dois sem-terra e três policiais. 

Claudemir Gilberto Ramos, tido pelos acusadores como líder da ocupação, recebeu pena de oito anos e meio de reclusão por cárcere privado e resistência à prisão. Cícero Pereira, também participante da ocupação, foi condenado a seis anos e dois meses por participação em um homicídio. Pela parte dos policiais, foram sentenciados o capitão Vitório Regis Mena Mendes e os soldados Daniel da Silva Furtado e Airton Ramos de Morais, mas todos ganharam o direito a um novo julgamento. 

Júri tendencioso
O Comitê de Solidariedade argumenta que o júri em Porto Velho foi conduzido de maneira preconceituosa, já que se baseou em uma investigação feita pela Polícia Militar. Os líderes entendem que a apuração foi realizada de maneira a isentar de culpa os policiais responsáveis pelo massacre, ignorando evidências fortes o suficiente para a identificação dos agentes.

Além disso, a avaliação é de que é preciso julgar os mandantes da matança, entre os quais figura Antenor Duarte, importante fazendeiro da região e apontado como principal suspeito. Em depoimentos, policiais admitiram ter recebido dinheiro do proprietário de terras como forma de incentivo a uma ação violenta. “Esperamos uma mudança de mentalidade para que a pessoa não seja condenada antes mesmo de ter sido julgada”, queixa-se padre Leo.

Apoio internacional
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) concluiu em 2004 que o Brasil deveria refazer a apuração sobre o caso, uma vez que a Polícia Militar, diretamente envolvida nos fatos, não goza de suficiente isenção para realizar os trabalhos de inquérito. O caso só não foi remetido à Corte Interamericana porque o massacre ocorreu em 1995, três anos antes da entrada do Brasil no Sistema Interamericano de Justiça.

Sem ter como dar sequência, a CIDH, que integra a Organização dos Estados Americanos (OEA), recomendou que fosse feita uma investigação “completa e imparcial”, dando conta da participação de cada um dos agentes nos episódios de Corumbiara.

O histórico do caso conta a favor dos líderes que pedem um novo julgamento. Em julho de 1995, durante o processo de ocupação, os trabalhadores sem-terra mostraram-se abertos à negociação, fato demonstrado pelo relatório da CIDH.

Em 8 de agosto daquele ano, ficou acertado que haveria uma nova rodada de conversas dentro de 72 horas, o que, segundo testemunhas disseram à Rede Brasil Atual, foi recebido com grande otimismo pelos acampados, que esperavam conseguir em breve a posse da terra, até então improdutiva.

Tiros e tortura
Mas o clima de vitória foi quebrado naquela madrugada, quando, desrespeitando o acordo e a legislação brasileira, policiais militares invadiram o local a balas. Começou uma troca de tiros que foi encerrada na manhã seguinte, quando os agentes de segurança imobilizaram os integrantes do movimento.

Foi então que começou uma série de sessões de tortura e de execuções de pessoas, segundo relatos. Uma das vítimas foi uma menina de sete anos que teria se recusado a pisar sobre os adultos deitados no chão, uma das ações voltadas à humilhação. Outras práticas incluíram comer terra suja de sangue, expor mulheres nuas e provocar ferimentos pela baioneta das armas.

Investigação sob suspeita
Os trabalhos de perícia confirmaram a execução de oito trabalhadores, além de quatro que já haviam sido mortos durante a troca de tiros. Durante as semanas que se seguiram ao crime, muitos dos feridos foram perseguidos e alguns até mortos nos hospitais em que estavam internados.

O vereador de Corumbiara Manuel Ribeiro, o Nelinho (PT), passou a sofrer ameaças após socorrer os trabalhadores e foi executado quatro meses depois. Os sobreviventes relatam que há muitos desaparecidos e, por isso, acreditam que o número de vítimas seja maior que o oficial. 

Os policiais procederam ao desaparecimento de muitas provas dos crimes, incluindo balas alojadas nos corpos, evidências que poderiam ser utilizadas para determinar de qual arma partiram os disparos. No dia do massacre, os agentes fizeram uma fogueira na qual, acredita-se, foram queimados alguns corpos. Semanas depois, ossos recolhidos por Jacques Borjois, presidente da Associação Missionária em Paris, foram levados à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para análise. 

O médico-legista Badan Palhares, atualmente processado por haver atrasado investigações sobre crimes relativos à ditadura, concluiu à época que se tratavam de restos de animais. Desconfiando do resultado, Borjois encaminhou o material para análise na Faculdade de Medicina de Paris, que indicou que se tratavam de ossos humanos, versão que foi desconsiderada pelos órgãos de investigação.

Estado brasileiro é culpado
Com isso, a Comissão Interamericana concluiu que o Estado brasileiro é culpado pelos episódios. Quanto às execuções extrajudiciais, o relatório de 2004 assinala que o país desrespeitou a Convenção Americana de Direitos Humanos ao permitir abusos por parte de policiais.

Quanto às mortes ocorridas em confronto, a leitura é de que o Brasil errou ao não conduzir uma apuração séria, que resultasse na punição dos verdadeiros culpados pelo crime. O Ministério da Justiça, conduzido então por José Gregori, não deu resposta a boa parte das indagações do órgão da OEA.

“Não houve uma investigação exaustiva com relação à maneira em que morreu a maioria dos trabalhadores durante a ocorrência dos fatos. Nenhuma autoridade foi investigada com relação a esses fatos e não foram processados os fazendeiros, nem seus empregados e pistoleiros que prestaram apoio à operação”, conclui a CIDH, que pede ainda que os agentes da Polícia Militar deixem de conduzir investigações e deixem de ter tratamento diferenciado no Judiciário."

Fonte: Rede Brasil Atual, por João Peres

E para quem quiser um pequeno video...


6 comentários:

  1. Deus coloca diante de nós o bem e o mal para escolhermos um dos dois. Se optarmos pelo mal, teremos que nos responsabilizar por todas as consequências.
    Portanto, não trata de nenhum castigo de DEUS o que houve, mas sim da falta de amor e compaixão do próprio homem que esquece do "próximo" e age de forma assustadora com seus próprios irmãos.
    Esse é um grito de ajuda, solicitando que seja feita a verdadeira justiça.

    Ser Cristão é peregrinar dia a dia, momento a momento, ajudando a construir o Reino de DEUS nas realidades em que vivemos. É viver encarnado em nossas vidas os critérios desse reino e sermos testemunhas e seguidores de Jesus, o Mestre e Senhor. É viver com a certeza da graça, apoio do Espirito Santo e a materna intercessão de Maria Santissima, mãe de DEUS e dos oprimidos e menos favorecidos.
    É despojar-se de toda vaidade e sabedoria humana É não querer passar uam falsa imagem, mas sim gritar por aquilo que é "justo"

    Ajudem a divulgar e que seja feita a justiça de DEUS. Amém

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. O mundo todo hoje está assim, isso aconteceu em 1995 mais se compararmos com os dias de hoje não mudou muito, até hoje acontece esses tipos de coisas, algumas pessoas no qual seriam para proteger a população, se acham superiores que chegam ao ponto de maltratarem, e até excecutarem pessoas e mais pessoas, se achando donos da lei, mais o qual muitos destes não sabem o verdadeiro siginificado da lei dos homens, pois a lei é feita para controlar uma sociedade, do que é certo e errado, todos somos iguais independente das condições de cada um, para Deus não tem mais rico e nem mais pobre, somos todos iguais diante de seus olhos, mais infelizmente vivemos em uma sociedade em que alguns se acham os poderosos.
    Jesus disse "Pai perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem"

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  4. Prezados amigos,
    Sem dúvida os massacres ao povo mais pobre continua acontecendo falta de condições de vida aos mais necessitados, desprezo aos idosos, serviço de saúde precario e assim por diante, quem tem dinheiro e pode pagar consegue as coisas e quem não até morre a mingua! Para piorar ainda temos situações como esta de pessoas que usam o seu poder econômico para restringir o direito à Terra aos trabalhadores rurais. Somos um país democrático, de muitas lutas e desafios para um Brasil melhor, sem dúvida se não os donos da lei e o pior os donos da Justiça - isto é gravíssimo, sem a verdadeira Justiça nada é possível, o nosso País precisa fazer a verdadeira Justiça, vamos apoiar a comissão de solidariedade das vítimas de Corumbiara. Vamos todos juntos lutar para que o Brasil possa acatar a decisão da OEA, indenizar as vítimas e uma investigação imparcial!

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  5. O Comitê Nacional de Solidariedade ao Movimento Camponês Corumbiara entregou uma carta à presidenta Dilma Rousseff solicitando uma nova apuração sobre o massacre de 12 trabalhadores rurais ocorrido em 1995, em Rondônia. O documento protocolado nesta segunda-feira (21) no escritório da Presidência da República em São Paulo chama atenção para a necessidade de solucionar uma “grande injustiça” nos episódios levados a cabo em 9 de agosto daquele ano.
    Precisamos de uma maior cobrança sobre este assunto, pois mesmo sendo visto internacionalmente nosso pais tem pouco se manifestado em prol dos mesmos.

    Este é mais um episodio do maltrato e injustiça aos que não tem nada, talvez nós esqueceremos logo deste massacre mas as crianças que apanharam, o jovem obrigado a comer os miolos do cadáver, as mulheres torturadas, os velhos, etc, nunca esquecerão e a menina que levou um tiro pelas costas mesmo morta também não esquecerá.

    Pedimos uma ajuda na divulgação, é preciso abrir os olhos para estas questões há 16 anos pessoas sofrem por causa do acontecido.

    Daniel

    Para Refletir...

    Gente Humilde
    Chico Buarque
    Composição: Garoto, Chico Buarque e Vinicius de Moraes
    Tem certos dias
    Em que eu penso em minha gente
    E sinto assim
    Todo o meu peito se apertar
    Porque parece
    Que acontece de repente
    Como um desejo de eu viver
    Sem me notar
    Igual a tudo
    Quando eu passo no subúrbio
    Eu muito bem
    Vindo de trem de algum lugar
    E aí me dá
    Como uma inveja dessa gente
    Que vai em frente
    Sem nem ter com quem contar
    São casas simples
    Com cadeiras na calçada
    E na fachada
    Escrito em cima que é um lar
    Pela varanda
    Flores tristes e baldias
    Como a alegria
    Que não tem onde encostar
    E aí me dá uma tristeza
    No meu peito
    Feito um despeito
    De eu não ter como lutar
    E eu que não creio
    Peço a Deus por minha gente
    É gente humilde
    Que vontade de chorar.

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  6. A não-violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a verdadeira não-violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível.

    Mahatma Gandhi

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